O Sol que apontava no Horizonte

E não era preciso abrir a janela pra sentir o calor do sol que apontava no horizonte, por mais que ele se sentia no dever de acordar, permanecer ali imaginando coisas agradáveis lhe parecia mais justificável para alguém que queria começar o dia de forma perspicaz.
Mesmo assim ele se levanta, caminha pelo quarto e toca suavemente as estrelinhas de papel penduradas por um barbante embaixo da prateleira de livros, Raimundo Carreiro, Goethe.
 Caio Fernando Abreu está lá a espera de algum tipo de consulta emocional.
É simples seu caminhar até o banheiro, os dedos nos olhos, os pés arrastados... Os azulejos azuis lhe acalmam.
É doce a forma que ele conversa com as plantas e chama Duendes pelo nome mentalmente, o quintal apertado, paredes laranja, o toque áspero dos pés descalços no chão.
É puro o sorriso que ele doa para as pessoas que passam na rua, as crianças da escolinha, os bebes no ônibus que sempre sorriem pra ele.
É engraçado o jeito que ele trança uma mecha do cabelo, com as duas mãos, curvando um pouco a cabeça para o lado.

Certa vez ele parou no meio do caminho e começou a recolher pedrinhas coloridas que se encontravam na grama, pareciam miçangas, amarelas, azuis, violetas. Pensou na sorte de poder ter as encontrado, depois pensou na sorte de poder ter encontrado tanta gente. Ele escolhe a pedra que mais lhe agrada, é a mais especial de todas, não sabe por que. Apenas sabe e isso já basta para diferencia-la de todas outras.
Saber escolher coisas se torna uma arte às vezes, senso crítico talvez, ou como a gente se espelha, ele gostava de jogar paciência, pois se sentia bem quando estava sozinho, ele gostava do mar, pois se inebriava n’água.
Certa vez viu um desenho na parede de um prédio, se parecia muito com ele, como é estranho se deparar com algo que é igual a ti. Uma vassoura se parece com um rodo? Se olhares apenas para o cabo, e a gente sempre olha alto.
                Roxo se parece com lilás, assim como lilás lembra o cheiro de lavanda. Mas a lavanda não é roxa? Talvez nada é igual a nada e tudo se parece tudo, a diferença é quando a gente esta disposto a ver por uma nova perspectiva ou se arriscar.
E enfim começa essa historia doida que narrarei a seguir...


Sobre um bêbado e um Ilusionista


Certa vez um homem estava em um bar na Avenida Amazonas, se sentia ferido por dentro de certa forma, tinha se divorciado e era capaz até mesmo de cometer um atentado a própria vida, pobre homem, se embriagando e colocando em risco sua vida por alguns anos de felicidade com outra pessoa, mas dizem que alguns momentos valem por uma vida toda. O estabelecimento já estava fechando, mas o bêbado não desiste de beber, se embriagava pela vida fétida, pelos intuitos hostis de pessoas que atentaram contra sua felicidade. Depois a raiva passa.
Mascarar angustia com bebida é algo que usurpa a alma. Ele se levanta, sai sem pagar a conta, ninguém o impede, o universo as vezes cria coisas inexplicáveis, isso acontece muito em Belo Horizonte e também em alguns lugares do sul da Irlanda. Andando pela rua ele imagina cores melhores para aquelas paredes cinza, horríveis como todo esse lixo fictício. Ele tropeça, mas antes que caia no chão é ajudado por um cara de cartola e bengala na mã­­­­­­o.
− O chapeleiro maluco? – O bêbado perguntou.
− Maluco talvez, bêbado como você, mas sinto muito desaponta-lo por comprar meus chapéus.
Eles se sentam na calçada e ele espera que o ilusionista tire uma pomba dos bolsos, mas antes que ele perguntasse já ouvira a resposta:
− As pombas ficam nas gaiolas no meu castelo na terra do nunca.
Acredite ou não o bêbado ficou mais bêbado ainda, o ilusionista se torna um mágico. Talvez muita vodka, muita cerveja, muita gente com energia ruim em volta, o ilusionista tira uma vassoura debaixo do casado e os dois voam juntos pra um lugar que o bêbado nem sabe mais onde estava.
O vento nos cabelos dele e as estrelas onde quase podia tocar, era a ultima, ou única lembrança.
No dia seguinte ele esta deitado em sua cama, os olhos vendados pelas lembranças falhas, o suor pelo corpo.
E não era preciso abrir a janela para sentir o calor do sol que apontava no horizonte...

   

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